sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ela é servida sempre em frascos individuais


"Imagine que vou fazer uma longa viagem, sem saber quando volto, e você vai até a estação de trem para se despedir de mim. Se depois nos comunicarmos por carta ou telefone e nos lembrarmos da despedida, não estaremos falando da mesma coisa, mesmo que imaginemos que sim. A minha lembrança e a sua serão diferentes, isso quando não forem exatamente opostas. Você se lembra de um homem que se afasta em um trem e que acena da janela. Mas eu me lembro de um homem imóvel em uma plataforma e de que ele ficava cada vez menor. É a única coisa que podemos compartilhar: a sensação do outro ficando menor. Trata-se de algo que encontra eco em nossas emoções. Quando nos distanciamos fisicamente de alguém, sua presença no inconsciente se reduz progressivamente. Talvez, nesse sentido, o que acontece no nível óptico seja mera preparação para o que acontecerá na mente. Mas voltemos ao início: a experiência nunca pode ser compartilhada. Ela é servida sempre em frascos individuais."

(Fransesc Miralles em: Nietzsche para estressados, de Allan Percy)

domingo, 22 de abril de 2012

Adriana Lisboa


"Seria possível pedir a ele que me desse um roteiro, como um guia turístico de si mesmo? Um manual. Que frase adequada dizer em cada situação. A cor da festa e a cor do luto. Setas indicando direções. As consequências da guerra interna. As prerrogativas do poder."


Nem que seja só de mentirinha



"Não adianta disfarces. Recalques. Ridiculamente óbvio quando analisado no divã ou na vida alheia. Os sinônimos do amor. Amor é palavra séria demais pra falar assim em vão. Por qualquer besteira. Amor é palavra que parece com aquelas limusines de casamento chique, que sai e vai levando muitas latinhas atrás de si. E são latinhas que fazem barulho. Barulho das responsabilidades que amar traz.

Então fica mais fácil não amar ninguém e gostar de todo mundo. Eu gosto de bolo de limão com calda de leite condensado. Gosto do meu edredon. Mas posso a qualquer hora abusar de um e de outro.

Eu consigo ver vez por outra os diversos nomes que fui dando ao amor ou foram dando ao amor que diziam sentir por mim.

Reler histórias antigas é tão engraçado como assistir um filminho demodê. Ver os gestos, os sinais, os códigos secretos emitidos por nós e para nós que antes não decifrados, hoje são tão claros e gastos. O medo saltitante de cada palavra insegura pensada e repensada mil vezes. O encanto brilhante diante do mistério que achava inocentemente ter sido descoberto. A brincadeira de dar, tomar. Gostar, desgostar. Atrair e se esconder. Intitulando aquela chaminha que ansiosa pulula buscando um pouco de ar pra tornar-se labareda: atração, paixão, curiosidade.

Tudo, menos amor.

E eu penso que no fundo a maioria (para não generalizar) gosta da tapeação. Do pó compacto que disfarça a rudeza que o amor pode significar pra quem trocou realidade por ficção ou contos da carochinha. Pobrezinho do amor. Foi trocado sem perceber. Nesse tempo de economias prefere-se os genéricos. Custam menos e provocam basicamente o mesmo efeito (nem que seja só de mentirinha). Pobrezinho de nós."

(Lice)

sexta-feira, 13 de abril de 2012


"Amar é o começo. O primeiro parágrafo. A primeira nota. É o que canta (e encanta). Amar é que nos faz falar. É o que nos faz acordar. É o que nos faz dizer “Bom dia” com o sorriso mais livre do mundo…"

(Fernanda Mello)