quarta-feira, 17 de julho de 2013

“É tão misterioso, o país das lágrimas!”


Sonhei que encontrava um amigo. Era bem diferente esse amigo. Pequeno, mas ao mesmo tempo bem maior do que eu. Magrinho, tão magrinho que eu não via como poderia ter forças. Mas era forte, muito forte. E tinha cabelos que dançavam ao vento, cabelos que eram da cor do trigo. Ele me parecia familiar, mas no sonho não me recordava de onde o conhecia. Ele chegou sorrindo! Que sorriso bom tinha meu amigo.


Eu estava chorando muito, não conseguia me sentir parte desse mundo doido, avesso a mim, às minhas expectativas. Mas o meu amigo me olhava curioso, na certa queria saber por que eu chorava tanto. Mas ele não disse nada. Ele sabia espiar e acalentar minhas dores de longe. Eu não conseguia parar de chorar. Mas em sonhos — ou mesmo na vida real — às vezes a gente não consegue fazer o que deseja, então a gente só aceita as coisas como são, embora queira mudá-las mais do que tudo.



Como não conseguia parar de chorar, não conseguia também falar. Então meu novo amigo foi logo perguntando o que é que eu tinha. Mas como eu disse, eu não conseguia parar de chorar. E nem falar. Então, como se ele soubesse tudo que se passa em meu coração, ele foi apenas falando, me contanto histórias divertidas, capazes de me fazer sorrir. Como o meu amigo gostava de falar! Mas, engraçado, lembro-me de momentos de silêncio entre nós. E era confortável. E o momento sabia quando acontecer.



Meu amigo disse que às vezes a vida é mesmo dolorida, mas que não precisa ser. Só precisamos aprender a encarar as adversidades com riso nos lábios e muita fé no coração. E rio. E eu me senti como no texto da Ana Jácomo. Me senti mar. E de repente estávamos eu e meu amigo em frente ao mar, porque em sonho é assim, as coisas acontecem sem explicação — assim como na vida real. Uma coisa que meu amigo também disse é que as coisas acontecem na hora certa. Nem antes e nem depois, mas no momento exato em que é para o choro se transformar em riso, alegria, em estado pleno de contentamento.



De repente as ondas do mar ficaram furiosas e lembro-me de ter parado de chorar nesse momento. Assustada, olhos espantados, quase pulando de tanto medo. Mas meu amigo não tinha medo. Era como se ele estivesse calmo só para me ver calma também. Não demorou muito, as ondas nos levaram para outro lugar, outro planeta! Chegando lá, o meu amigo me apresentou a uma garota. O nome dela era Ana Rosa. Muito orgulhosa e arteira. Ao contrário do meu amigo, ela não sorria muito, mas era tão sábia! Conversamos um pouco, mas eu não lembro exatamente o que falei para ela. Mas do que ela me disse eu lembro: disse que a melhor coisa do mundo é ter um amigo como o que eu tinha. O meu amigo era amigo dela também e cuidava dela com tanto empenho! Ela disse que se sentia sufocada, mas que não falava nada porque já tinha fama de chata no planeta e isso poderia piorar a situação. "Mas só vivem vocês dois aqui!" Eu quis dizer... Mas não disse. Às vezes o silêncio é a melhor opção para não ferir sentimentos.



Depois de um tempo conversando com aqueles dois, já não me recordava porque estava chorando no começo do sonho. Disse isso ao meu amigo e ele riu com seu cabelo dourado voando na posição que o vento ia. Ele segurou minha mão como se isso fosse a coisa mais natural entre pessoas que se conheceram a tão pouco tempo. Mas talvez fosse. Talvez seja. E como se lesse meus pensamentos, meu amigo disse: talvez a gente seja muito recatado para as coisas boas da vida. E sumiu. Meu amigo sumiu. Minha amiga Ana Rosa também, e o planeta, e todas as outras coisas. E eu estava de novo sentada na calçada em frente a minha casa. E tudo tinha voltado a ser como era antes, embora não fosse. Depois que um amigo passa por nossa vida ela nunca mais pode ser considerada a mesma.



autor desconhecido

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